quarta-feira, 24 de outubro de 2012

DONA ZICA É EMOÇÃO EM VERDE E ROSA



Centro Cultural Cartola lançou hoje o programa comemorativo do centenário de Dona Zica com exposição.
A emoção tomou conta da Mangueira neste último sábado (20/10). Viúva de Cartola, um dos mais importantes ícones da música brasileira, Euzébia Silva de Oliveira, a Zica, falecida em 2003, recebeu uma exposição no Centro Cultural Cartola em homenagem aos cem anos
 do seu nascimento. Para dar início às comemorações do centenário da ilustre mangueirense, o Centro Cultural Cartola (CCC), com o apoio da Secretaria de Estado de Cultura, lançou a exposição Dona Zica – Da Mangueira e do Brasil, traçando um panorama de sua vida e obra.Com curadoria de Nilcemar Nogueira, a exposição fica em cartaz de 20 de outubro de 2012 a 29 de abril de 2013 com entrada gratuita.
Neta de Dona Zica, Nilcemar Nogueira, relatou com emoção a sua relação de afeto e aprendizagem com sua avó:
- Minha avó foi uma das pessoas mais importantes da minha vida. Com ela eu aprendi a ser o que sou e toda a luta do Centro Cultural Cartola pelo direito do sambista se reconhecer como produtor de conhecimento é dedicada e inspirado nela.
O sambista Nélson Sargento também olhou a exposição com admiração e relembrou da amiga:
- Zica era uma pessoa muito educada. Quem via Zica não tinha como não se apaixonar. Eu já freqüentei muito a casa dela, convivi com Cartola, aqueles sambistas todos. Foi a Zica que deu força pro Cartola continuar a cantar e eu sou muito agradecido a ela. Depois que o Cartola morreu, ela me deixou terminar algumas músicas dele, que ele começou antes de morrer e não terminou como “Deixa e “Velho Estácio”.
Perguntado sobre a importância de Dona Zica na Mangueira, não pestanejou:
- Zica era uma das grandes damas do Samba. O samba deveria reconhecer mais isso.
Pedro Paulo Nogueira, que juntamente com Nilcemar Nogueira fundou o Centro Cultural Cartola, também prestigiou o evento.
Dona Regina Nogueira, filha de Dona Zica, se emocionou ao receber uma homenagem da ala “Só Para Quem Pode”, da qual Dona Zica era madrinha:
- Essa foi mais uma de tantas homenagens que minha mãe recebeu e ainda recebe. Ela vivia para Mangueira. Minha mãe falava: “Aqui é minha Vieira Souto. Minha Igreja é Mangueira” – Disse Regina, que chorou muito ao ver a exposição em homenagem à mãe inaugurada por sua filha, Nilcemar.

O evento contou com a presença de intelectuais como a professora Martha Abreu do departamento de História da UFF e Renata Gonçalves, professora do departamento de Antropologia da mesma universidade:
- È muito importante o reconhecimento e a participação da comunidade em reconhecer suas próprias figuras. Esse é um movimento que acontece não só aqui no Rio de Janeiro, com a própria comunidade reconhecendo sua própria identidade, mas também é um movimento maior, onde as pessoas começam a reconhecer os seus próprios saberes em todo o Brasil. É uma tendência ligada ao registro de bens imateriais e acho que o samba conseguiu fazer isso muito bem, unindo os atores locais aos seus próprios fazeres – disse Renata.
Políticos Prestigiaram a Homenageada
Também compareceram figuras políticas importantes, como o Superintendente de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, Marcos André Carvalho:
- Essa exposição é muito importante para a cultura carioca. Falar de Zica é falar da própria história da Mangueira. Ela foi uma das mulheres mais importantes do Brasil, com seu sorriso acolhedor, quase dizendo “aqui tem espaço pra todo mundo”.
Marcos André aproveitou e falou da importância do Centro Cultural Cartola e do caminho positivo que a cultura no Rio de Janeiro trilha:
- A importância do Centro Cultural Cartola, hoje, extrapola a própria Mangueira. Entre suas missões, ele devolve para a Mangueira o que é da Mangueira. E não só isso, o Centro adquiriu uma grande importância para as escolas de samba e para sua memória, pois nenhuma escola tem o acervo e a sua memória organizada como o Centro Cultural Cartola possui.É um trabalho que vem crescendo, mas ainda precisa de mais apoio.
Gabriela Alevato, Gerente de Convênios da Superintendência de Museus da Secretaria de Cultura, também ressaltou a importância do trabalho :
- As políticas de cultura estão cada vez mais presentes na sociedade. Devemos cada vez mais nos atentar para trabalhos como esse do Centro Cultural Cartola.
Miro Teixeira também compareceu ao evento e relembrou o lado acolhedor da homenageada:
- Zica era a expressão do Rio de Janeiro. Com ela não tinha tristeza. Sempre tinha uma palavra de conforto, um sorriso e um estímulo. – disse Miro, que confessou ser fã de carteirinha das comidas que Zica fazia nas reuniões de sua casa no Buraco Quente, na Mangueira.
Também compareceu o ator Maurício Mattar, que aprovou a feijoada preparada pelas baianas da Mangueira para o evento e sambou ao lado de componentes da Velha Guarda da escola, e o poeta Geraldinho Carneiro.
Em clima de festa após a inauguração, Nilcemar Nogueira e a filha de Dona Neuma, companheira inseparável de Zica, cantaram juntas relembrando a parceria de Dona Zica e Dona Neuma. A emoção tomou conta do ambiente com o grupo de pagode Regente animando a roda de samba e a tradicional receita de feijoada de Zica.
Sobre Dona Zica
Euzébia Silva de Oliveira, a Dona Zica, nasceu num domingo de Carnaval, 6 de fevereiro de 1913, no bairro carioca de Piedade. Com quatro anos de idade foi morar, com a família, no Buraco Quente, no Morro da Mangueira. Lá conheceu e conviveu com Cartola, para quem, mais do que esposa, foi musa inspiradora e companheira dedicada. Sua personalidade forte impulsionou a vida e a carreira do grande mestre. Nascia ali também um amor incondicional pela Mangueira, pelas culturas carioca e brasileira. Sua relação com a comunidade mangueirense a converteria na grande dama da verde-e-rosa. O jeito delicado e vaidoso, o apego à vida, a dignidade e a altivez transformaram-na em umas das mais fortes lideranças femininas do samba carioca.
Dona Zica também conquistaria a fama de uma das mais importantes culinaristas do Rio. Quem não ouviu falar de seu famoso feijão? Afamada por seu talento de cozinheira inspirada e por toda sua dedicação ao samba, conquistou seu espaço social e político e contribuiu para a manutenção de nossos valores culturais. Uma de maiores contribuições à cultura brasileira foi abrir no centro do Rio com o marido ilustre um restaurante que entraria para a história da MPB: o Zicartola, estabelecimento que funcionava no segundo nível de um sobrado de três andares localizado na Rua da Carioca, número 53. Neste espaço, criado inicialmente para servir refeições, passaram a se reunir, ao fim das tardes, sambistas que lá encerravam o dia de trabalho ao som de batucadas. Com o crescimento das escolas de samba na década de 1960, os antigos compositores, que perderam espaço com este fenômeno, passaram a buscar refúgio no Zicartola, entre eles Zé Keti. Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho, Ismael Silva, Aracy de Almeida e a eles juntaram-se grandes nomes da bossa nova, como Carlos Lyra e Nara Leão que também se apresentaram por lá. O local também foi palco do lançamento de Paulinho da Viola.
Serviço
A exposição está aberta à visitação de segunda à sexta, de 10 às 17hs, no Centro Cultural Cartola, que se localiza na Rua Visconde de Niterói, 1296, Mangueira. Para agendamento de visitas mediadas, entrar em contato pelo e-mail cartola@cartola.org.br.

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